Ano I - Número 9 - Set/21

Destaques: Editor de jornal regional é encontrado morto no PA. ONGs registram elevado números de tuítes atacando a imprensa. Funcionários da EBC denunciam censura à CPI da Pandemia.

NORTE

Almeirim (PA) – O jornalista Eranildo Cruz, diretor-editor do jornal Tribuna Regional, foi encontrado morto em 6 de setembro depois que policiais arrombaram o local onde estava o corpo, amarrado e com sinais de tortura. O profissional fazia cobertura de assuntos políticos e de movimentos sociais. Na madrugada de 14 de setembro, foi preso o primeiro suspeito do assassinato que havia sido identificado pelas câmeras de monitoramento, sentado na garupa da moto roubada da vítima. Depois da prisão, ele confessou o crime. O delegado Rodrigo Barbosa afirmou que ainda não está definida a motivação do crime e que está investigando outras hipóteses. Segundo Barbosa, o suspeito apontou dois mandantes, mas ainda não há indícios que levem a essas pessoas. 

SUDESTE

São Paulo (SP) I - O jornalista Raphael Hernandes, da Folha de S.Paulo, fundador da versão brasileira do projeto Privacidade para Jornalistas, lançou um guia para ensinar profissionais da imprensa a recuperar suas contas pessoais nas redes sociais após tentativas bem-sucedidas ou não de “hackeamento”. O conteúdo está disponível gratuitamente no “site” do projeto. O guia é voltado para pessoas que notaram movimentações estranhas em contas de Twitter, Instagram ou até mesmo WhatsApp, e ensina o passo a passo da recuperação de acessos e senhas, e como aumentar a segurança dos “logins” em diversas plataformas. No “site”, há também outros guias disponíveis, como um guia básico para proteção de jornalistas na internet, análise de ameaças e higiene digital e limpeza de rastros online, além de dicas de “softwares” mais seguros para o contato com fontes.


Rio de Janeiro (RJ) – A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e o Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio) registraram meio milhão de tuítes contendo “hashtags” ofensivas à imprensa em apenas três meses, sendo que 20% deles partiram de contas com alta probabilidade de comportamento automatizado.
Segundo o relatório, grupos de comunicação considerados críticos ao governo federal e jornalistas mulheres foram os alvos preferenciais no monitoramento realizado entre 14 de março e 13 de junho de 2021. A pesquisa monitorou as mais frequentes hashtags de ataque à imprensa no período: #imprensalixo, #extreamaimprensa, #globolixo, #cnnlixo e #estadãofake. Além disso, os pesquisadores mapearam episódios de assédio nas redes contra perfis de alguns jornalistas, como Maju Coutinho (TV Globo), Daniela Lima e Pedro Duran (CNN Brasil), Mariliz Pereira Jorge, colunista da Folha, e Rodrigo Menegat (DW News).

São Paulo (SP) II - A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) passou a disponibilizar em seu “site” um formulário “on-line” para denúncias de ataques contra mulheres jornalistas e com viés de gênero direcionados a profissionais de imprensa. Realizada no âmbito do projeto de monitoramento de ataques de gênero contra jornalistas, a iniciativa tem como objetivo estabelecer um canal para a notificação de casos que violem as liberdades de expressão e de imprensa, cujo principal alvo são as mulheres. Por meio do formulário, será possível comunicar agressões físicas e verbais, ameaças, intimidações, insultos e assédio. Tendo em vista que o canal de denúncias abrange situações de violência de gênero em sua totalidade, homens cisgêneros, pessoas transgêneras e não-binárias também poderão encaminhar suas notificações.

Belo Horizonte (MG) - O repórter Alexandre Silvestre, da TV Gazeta, foi agredido com um capacete de motociclista na noite de 28 de setembro, após o jogo de futebol entre Atlético e Palmeiras, pela Copa Libertadores. O jornalista foi atingido enquanto participava de uma transmissão ao vivo no entorno do estádio do Mineirão. Dois torcedores acusados da agressão foram detidos pela Polícia Militar e levados para a delegacia para prestar depoimento, sendo liberados em seguida.

SUL

Londrina (PR) I - O jornalista autônomo José Adalberto Maschio, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas do Norte do PR, depôs em 27 de setembro no 5º Distrito Policial da cidade em razão de representação feita pela juíza Isabelle Noronha, da 6ª Vara Criminal. A denúncia foi motivada pela publicação no Facebook do profissional de imagem de Noronha no “hall” de um hotel em São Paulo (SP) usando uma peruca verde e amarela, acompanhada de outras quatro pessoas, uma delas empunhando um cartaz com os dizeres “Supremo é o povo”, como se estivesse indo ao ato considerado antidemocrático que foi realizado nesse dia na Av. Paulista. A juíza diz que estava hotel com sua família e amigos vestindo as cores da bandeira nacional no Dia da Independência, prática que mantém desde criança, e que estava “exercendo seu direito cívico e liberdade de manifestação de pensamento e expressão, constitucionalmente assegurados no artigo 5º, inciso IV, da Constituição Federal”. A Corregedoria-Geral do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) abriu sindicância para apurar possíveis irregularidades no comportamento da juíza, após denúncia do grupo Movimento Algo Novo na Advocacia Paranaense.

Londrina (PR) II – O cinegrafista Rodrigo Marques, da RIC Record TV Londrina, foi agredido durante a cobertura de um acidente de trânsito no cruzamento das ruas Belo Horizonte e Quintino, na noite de 28 de setembro. O profissional foi atacado pelo motorista de um veículo que teria avançado uma via preferencial e colidido com uma motocicleta, ferindo gravemente a passageira do veículo. Com sinais de embriaguez, o infrator partiu para cima de Marques pelo simples fato de o repórter estar registrando a ocorrência. Imagens captadas pela Rede Massa mostram o agressor derrubando Marques e tomando de suas mãos o equipamento do Grupo RIC, jogando-o, posteriormente, no asfalto. O jornalista teve o ombro deslocado e precisou ser medicado.

CENTRO-OESTE


Brasília (DF) - Funcionários da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) afirmaram à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia que a estatal impõe censura interna e dissemina negacionismo na pandemia.
Segundo o relatório enviado aos senadores, a EBC vetou a publicação de matérias sobre o “e daí?” do presidente da República e a chegada da segunda onda da doença. No relato, os colaboradores da empresa revelam as ordens para que as notícias nos canais oficiais dessem pouca atenção ao número de mortes por Covid19. O modelo a ser seguido seria o da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), que enfatiza os “recuperados”. O uso da estatal em prol do governo federal já está sendo investigado pelo Superior Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

JUDICIAIS

São Paulo (SP) I - O jornalista Paulo Cezar de Andrade Prado, autor do “Blog” do Paulinho, foi preso na manhã de 28 de setembro para cumprir pena de cinco meses e 13 dias, por crime de difamação contra Paulo Garcia, um dos controladores da empresa Kalunga. O juiz Marcos Vieira de Moraes, da 26ª Vara Criminal, negou o pedido de cumprimento da pena em regime aberto. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) repudiou a prisão, se solidarizando com Paulo Prado, e pedindo celeridade no julgamento dos recursos aos tribunais superiores. A defesa do blogueiro havia solicitado que a prisão, em processo de crime de opinião, fosse transformada em regime aberto em função da pandemia, já que o jornalista é paciente de risco: além de hipertenso, já teve tuberculose e broncopneumonia. Na queixa-crime de 2016 movida por Garcia, também ex-candidato a presidente do Corinthians e figura ativa na vida do clube, ele afirma que foi atacado em sua honra por duas matérias publicadas no “blog”.

São Paulo (SP) II – A repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo, deve ser indenizada em R$ 35 mil pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O valor por danos morais foi sentenciado pelos desembargadores da 8ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça (TJ-SP), ao negarem recurso de decisão de primeira instância. Em manifestação pública, o parlamentar reiterou e aceitou como verdadeiras as declarações do blogueiro Hans River à CPMI das Fake News no Congresso que mencionou que Patrícia teria se insinuado sexualmente para poder obter informações sobre publicação em massa de mensagens durante a campanha eleitoral de 2018.

Cuiabá (MT) – O jornalista Alexandre Aprá, do “site” Isso É Notícia, teve negado pela Polícia Federal (PF), em 15 de setembro, um pedido de abertura de investigação para apurar ameaças que sofreu após a publicação de reportagens sobre gastos com publicidade sem licitação do governo estadual. Depois de receber avisos para deixar de publicar as reportagens, o jornalista deixou o MT e ingressou com a notícia-crime na PF pedindo investigação das ameaças, que ele atribuiu ao governador Mauro Mendes (DEM). O jornalista afirma que um detetive particular foi contratado pelo governador, pela primeira-dama Virgínia Mendes e pelo publicitário Ziad Fares, dono da ZF Comunicação, agência contratada pelo Estado com dispensa de licitação, para incriminá-lo por tráfico de drogas e abuso sexual de menores. Responsável pela negativa de investigação, o delegado Renato Sayão Dias alegou não haver "nenhum crime de competência federal" no caso. Agora os autos serão encaminhados para o Ministério Público, que irá decidir as medidas cabíveis. O governador negou envolvimento com a contratação de detetive para incriminar o jornalista e alegou que Aprá é financiado por adversários políticos. Por sua vez, o jornalista reuniu gravações de áudio e vídeo em que o detetive fala sobre a investigação contra ele, admitindo ter colocado um GPS em seu carro para rastreá-lo.

Maraial (PE) – A jornalista Tania Pacheco, do “blog” Combate Racismo Ambiental, está sendo processada por republicar matérias da Comissão Pastoral da Terra do Nordeste que relatam conflitos entre antigos posseiros e latifundiários no município da Zona da Mata pernambucana. O processo também é movido contra a Comissão Pastoral da Terra Nordeste II pelo empresário Walmer Cavalcante, filho de um latifundiário citado nas reportagens. A ação pede a retirada das duas publicações que tratam dos conflitos na área entre posseiros e latifundiários, a retratação dos réus em suas redes sociais, além da condenação à indenização de R$ 20 mil por danos morais. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) acolheu o caso em seu Programa de Proteção Legal para Jornalistas.

Natal (RN) - O apresentador Sikêra Jr., do programa “Alerta Nacional”, da RedeTV, move processo por danos morais contra o jornalista Jacson Damasceno, âncora do programa ‘Brasil Urgente’, da TV Band RN, em razão de comentários ao seu discurso, considerado homofóbico, sobre a comunidade LGBTQIAP+, em junho. Na época, Damasceno utilizou o programa para criticar a fala do apresentador da Rede TV, que se referiu a homossexuais como “raça desgraçada”. Ele ainda questionou a contribuição de Sikêra ao país, comparando-o com grandes personalidades brasileiras que fizeram parte dessa comunidade. Além da reparação de R$ 44 mil, a ação pede uma retratação pública de Jacson, feita durante o ‘Brasil Urgente’, com publicação no “site” da emissora e nas redes sociais. Outro pedido é de que seja oficiada a comissão de ética da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) para análise de uma possível infração disciplinar. A audiência de conciliação será em 20 de outubro.

Brasília (DF) – O apresentador Augusto Nunes, da rádio Jovem Pan, teve parte de sua conta bancária penhorada, para pagamento de indenização de R$ 30 mil à deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT). O jornalista havia sido condenado em maio por chamar diversas vezes a dirigente petista de “amante” em textos publicados nos portais da revista Veja e no R7, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Augusto Nunes foi condenado à revelia, por unanimidade pelos desembargadores da 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Eles ainda afirmaram que Nunes fazia questão de mencionar que a petista era "conhecida pelo codinome Amante no departamento de propinas da Odebrecht", de acordo com a investigação da Operação Lava Jato. A expressão foi usada pelo apresentador 72 vezes, em textos que nada tinham a ver com as investigações sobre a construtora.

São Paulo (SP) III – O jornalista Ary Filgueira, da revista IstoÉ, se livrou de queixa-crime apresentada pela Associação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Lubrificantes, Logística e Conveniência (Plural) e pelo Sindicato Nacional de Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom). A demanda havia sido motivada por textos opinativos como "O cartel que joga contra o país", "O conchavo do combustível" e "Vitória do cartel", fazendo alusão às redes de postos de combustível BR, Shell e Ipiranga. Os desembargadores da 15ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de SP (TJ-SP) negaram provimento ao recurso contra decisão de primeira instância que já tinha rejeitado a queixa-crime.


Porto Alegre (RS) – A RBS TV está judicialmente proibida de colocar no ar uma reportagem sobre a delação premiada feita por um empresário ao Ministério Público, sobre atos de corrupção.
O conteúdo foi produzido pelo jornalista Giovani Grizotti e envolve um prefeito do Interior do Estado. O grupo de comunicação apresentou um pedido de reconsideração à própria juíza Karine Carvalho, da 18ª Vara Cível, que concedeu a liminar em favor do delator proibindo a matéria de ir ao ar. Diante da negativa da magistrada, o Grupo RBS optou por entrar com um agravo no Tribunal de Justiça do RS (TJ-RS), que não concedeu efeito suspensivo da liminar.

São Paulo (SP) IV – A revista Veja se livrou de indenizar a jornalista Andrea Neves, irmã do deputado federal e ex-senador Aécio Neves (PSDB-MG), por reportagens publicadas em 2017. As matérias apontavam que o delator e ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Júnior, afirmou que a empreiteira pagou propina a Aécio por meio de uma conta no exterior operada por Andrea. A autora alegou que a delação premiada jamais expôs tal fato e que o texto seria fictício e ofensivo. Por isso, pediu indenização por danos morais no valor de R$ 300 mil. A juíza Sabrina Severino, da 3ª Vara Cível do Foro Regional de Nossa Senhora do Ó, considerou que as reportagens tiveram "claro intuito jornalístico". Assim, não haveria "propósitos de difamar, injuriar ou caluniar", nem mesmo "qualquer conteúdo vexatório ou pejorativo à autora".

Joinville (SC) - O portal de notícias UOL deve conceder direito de resposta ao empresário Luciano Hang, dono da Havan, em razão de reportagem que afirmava que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teria produzido um relatório de 15 páginas apontando problemas e inconsistências na fortuna do apoiador do presidente da República. Em recurso, a desembargadora Maria da Rocha Ritta afirmou que não somente a Abin, como também o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, atestaram a inautenticidade do citado relatório e a presença de diversas inconsistências formais com outros relatórios da mesma agência, a indicar a falsidade do documento. Segundo a reportagem, o relatório apontava prática de agiotagem, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, financiamento de “fake news” e do chamado "gabinete do ódio".

São Paulo (SP) V - A revista Oeste ajuizou ação contra reportagens da agência de checagem Aos Fatos e conseguiu liminar favorável em primeira instância para exclusão de textos. A agência foi contratada pelo Facebook para apurar denúncias de usuários sobre desinformação em postagens da publicação. A Aos Fatos apontou duas reportagens como “fake news”: uma sobre tratamento precoce para a Covid-19 e outra sobre a inexistência de queimadas na Amazônia. A agência recorreu ao TJ-SP, que reformou a decisão. Para o relator, desembargador Viviani Nicolau, não foi constatada intenção de injuriar ou difamar a Revista Oeste, já que as críticas feitas pela agência de checagem foram objetivas e fundadas em dados aparentemente idôneos, e não "em discordância de opiniões", como entendeu o juízo de origem. Segundo ele, a afirmação de que o conteúdo publicado pela revista consistiria em “fake news” representa crítica objetiva a dois textos específicos, e não a sua atuação como um todo ou aos profissionais que fazem parte de seus quadros.

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Fontes: http://www.abi.org.br, https://www.abraji.org.br/, http://fenaj.org.br/,  https://www.conjur.com.br/areas/imprensa, http://www.portalimprensa.com.br/, http://artigo19.org/, https://portal.comunique-se.com.br/; https://www.coletiva.net/, Centro Knight para o Jornalismo nas Américas(https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/) e outras instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de jornalista.

 

Pesquisa e edição Vilson Antonio Romero (RS)

e-mail: vilsonromero@yahoo.com.br

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