ANO II - NÚMERO 6 - BOLETIM DE JUNHO/22
Destaques: Polícia investiga motivação de assassinatos de jornalista britânico e indigenista no AM. Justiça de SP condena Presidente da República em duas ações envolvendo agressões à imprensa. Jornalistas do Congresso e Foco sofrem ataques virtuais. Comissão de Ética da ABI condena postagem de jornalista do Metrópoles. CDH do Senado Federal realizou audiência sobre liberdade de imprensa.
NORTE
Atalaia do Norte (AM) – O jornalista inglês Dom Philips foi assassinado em 5 de junho, juntamente com o indigenista Bruno Pereira, durante uma viagem pelo Vale do Javari, segunda maior terra indígena do Brasil, no oeste do AM. Os restos mortais deles foram encontrados em 15 de junho, após um dos suspeitos confessar envolvimento e indicar o local aonde os corpos foram esquartejados, queimados e enterrados. A polícia investiga a participação de mais envolvidos e a motivação do crime. Um quarto suspeito foi preso em 23 de junho ao se apresentar ao 2º Distrito Policial de São Paulo (SP).
Manaus (AM) – O jornalista Thiago Gonçalves e o cinegrafista Paulo Cesar de Araújo, do site Imediato, da rede Norte Digital, tiveram seus equipamentos de trabalho danificados enquanto faziam a cobertura de um homicídio na Travessa São Pedro. A delegada Marna de Miranda, do 19º Distrito Integrado de Polícia, abordou a equipe dando um tapa na câmera e derrubando o celular que estava também sendo usado na transmissão ao vivo. A justificativa da policial é que se tratava de vilipêndio de cadáver, o que foi negado pelo site e pelos profissionais.CENTRO-OESTE
Brasília (DF) II - A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado Federal promoveu em 15 de junho um debate sobre os ataques à liberdade de imprensa e os riscos da atividade jornalística e da livre expressão no Brasil. Participaram como palestrantes: Sylvio Costa, fundador do Congresso em Foco, os presidentes Octávio Costa (ABI), Maria José Braga (Fenaj) e Natália Mazotte (Abraji), além dos jornalistas Jamil Chade, Patrícia Campos Mello e Elisabeth Costa, entre outras personalidades e especialistas. Autor do pedido da audiência pública, o presidente da CDH, senador Humberto Costa (PT-PE) destacou o aumento de casos de violência contra profissionais de imprensa desde as eleições de 2018 e afirmou que a profissão de jornalista é hoje de “altíssimo risco” no Brasil. A íntegra da audiência pode ser acessada no link: encurtador.com.br/nuwY0.
SUL
Porto Alegre (RS) – Diversos fotógrafos e cinegrafistas foram impedidos por jogadores do clube Botafogo de Futebol de Regatas, do RJ, de registrar imagens de uma confusão entre os atletas ao final do jogo contra o Internacional, no Estádio Beira-Rio, na noite de 19 de junho. A Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos (Arfoc-RS), em comunicado, repudiou o comportamento que “tem se tornado frequente nos estádios de futebol". A Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos (Aceg) se “solidarizou com os repórteres fotográficos e cinematográficos e criticou a atitude de alguns jogadores do Botafogo que tentaram bloquear as lentes dos equipamentos, prejudicando o trabalho desses profissionais”.
NORDESTE
Aracaju (SE) - O Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas publicou nota técnica dirigida ao diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, exigindo que seja revogada a negativa de acesso a informações sobre os cinco agentes envolvidos na morte de Genivaldo Santos e divulgue a quantidade, os números dos processos administrativos e a íntegra dos autos já concluídos envolvendo os que participaram da abordagem. O coletivo é atualmente coordenado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e congrega dezenas de organizações sociais como Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Amazônia Real, Andi – Comunicação e Direitos, Artigo 19, Associação Contas Abertas, Data Privacy Brasil, Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Inesc e Instituto Ethos.SUDESTE
Rio de
Janeiro (RJ) - A Comissão de Ética dos Meios de Comunicação da Associação
Brasileira de Imprensa (ABI) manifestou indignação diante do comportamento
antiético de jornalistas e diretores de portais e demais veículos de
comunicação que exploram casos de vítimas de violência sexual para ampliar o
número de seguidores virtuais. A ABI advertiu em específico o jornalista
Leo Dias, do portal Metrópoles, que publicou detalhes sobre o caso envolvendo o
estupro e a gravidez da atriz Klara Castanho que deu à luz e entregou o bebê para
adoção. A ABI também manifestou solidariedade a Castanho e familiares. O portal
Metrópoles desculpou-se pela publicação de informações sigilosas sobre o caso.
JUDICIAIS
São Paulo (SP) I – O presidente da República foi
condenado a pagar indenização de R$ 100 mil a título de danos morais coletivos
em ação civil pública ajuizada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de
SP. A juíza Tamara Hochgreb Matos, da 24ª Vara Cível, entendeu que os
reiterados ataques do mandatário aos profissionais de imprensa extrapolam os
limites da liberdade de expressão garantida pela Constituição. Na ação, a entidade
de classe apontou que, somente em 2020, o político fez 175 ataques à imprensa e
que sua conduta tem desencadeado uma série de agressões a jornalistas por seus
apoiadores em todo o país. O sindicato sustentou que o presidente tem violado
os princípios da dignidade humana, da moralidade e da impessoalidade. Cabe
recurso.
São Paulo (SP) II - A jornalista Patrícia Campos Mello, do
jornal Folha de S. Paulo, deve ser indenizada em R$ 35 mil pelo presidente da
República, em razão de ofensas com insinuações de cunho sexual, proferidas em
fevereiro de 2020. Por 4 votos a 1, os desembargadores da 8ª Câmara de
Direito Privado do TJ-SP confirmaram a sentença de primeira instância e
elevaram o valor da indenização, anteriormente fixada em R$ 20 mil. Campos
Mello foi atacada pelo político em discursos e nas redes sociais após publicar reportagens
mostrando esquema de disparo de mensagens em massa do então candidato, em 2018,
contra seu adversário do Partido dos Trabalhadores. O desembargador Salles
Rossi foi o único a acolher a tese da defesa, que afirmou não ter feito
insinuações de caráter sexual contra a jornalista ao dizer que ela queria
"dar o furo". O jargão é jornalístico, mas foi dito com malícia pelo
presidente. Depois dessa declaração, a repórter foi atacada nas redes sociais por
eleitores e aliados do mandatário, tendo seu nome associado a palavrões e "memes" com imagens de cunho sexual.
Rio de Janeiro (RJ) - A TV Record Rio e o apresentador
Rogério Forcolen foram condenados pelo Tribunal de Justiça (TJ-RJ) a pagar R$
100 mil de indenização ao dentista André Luiz Cardoso. Em 2013, o
profissional ficou preso por sete meses, acusado de estupro, até a justiça concluir
que a investigação policial apresentava falhas e inocentá-lo após um exame de
DNA. Atualmente, Forcolen é editor-chefe e apresentador do programa Brasil Urgente, da Band TV no RS. No
dia da prisão, o jornalista chamou Cardoso de estuprador durante o'Balanço
Geral RJ. Ao dar a sentença, o juiz André Luiz Nicolitt, da 20ª Vara Civil do
TJ-RJ, criticou o "cunho apelativo" da notícia.
São Paulo (SP) IV - A jornalista Juliana Dal Piva, do
portal Uol, foi condenada pelo juiz Fábio Junqueira, da 6ª Vara Cível do TJ-SP,
a indenizar em R$ 10 mil o advogado Frederick Wassef, após divulgar mensagens
trocadas com o defensor no WhatsApp. A jornalista denunciou ter sido
ameaçada pelo advogado da família do presidente da República depois da
publicação do podcast “A vida secreta de Jair”, que mostrou indícios do
envolvimento do político em esquema de desvio de salário de assessores do seu
gabinete quando era deputado federal. Em mensagem no WhatsApp, Wassef questionou
a ética profissional da jornalista e fez comentários de cunho sexual. O Judiciário
disse que não houve ameaça por parte do advogado e condenou a jornalista em R$
10 mil por divulgar a mensagem enviada por ele. O juiz também sentenciou o
advogado por danos morais em R$ 10 mil em favor da colunista do Uol. Cabe
recurso.
Belo Horizonte (MG) I – O colunista Thiago Herdy, do
portal Uol e ex-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji), se livrou da denúncia-crime do procurador-geral de Justiça de MG,
Jarbas Soares Jr., que pediu o arquivamento da ação. Em fevereiro, Soares
Jr. ingressou com dois processos contra o jornalista, em razão de reportagem
sobre o pedido do procurador de incluir uma ponte de mais de R$ 100 milhões em
São Francisco, cidade onde passou sua infância, no acordo de reparação da Vale
sobre o incidente de Brumadinho. Na ocasião, a Abraji repudiou a atitude do
procurador-geral e apontou para mais uma tentativa de cerceamento da liberdade
de imprensa. A Abraji destacou também que Soares Jr. pediria a abertura de processo
criminal ao próprio Ministério Público (MP) do qual é o chefe.
Belo Horizonte (MG) II – O jornalista Leandro Demori,
ex-editor executivo do Intercept Brasil, foi condenado em segunda instância a
pagar R$ 5 mil à juíza Ludmila Grillo por danos morais, além de publicar uma
retratação pública em suas redes sociais. O processo refere-se a um
bate-boca entre os dois nas redes sociais, no ano passado, no qual a juíza
alega que foi chamada de “jumenta”. A juíza viralizou em 2020 por incentivar
aglomerações e zombar do uso de máscaras em meio à pandemia de Covid-19,
inclusive dando dicas em um vídeo de como burlar o uso obrigatório de máscara
tomando sorvete. Demori criticou as atitudes dela e daí surgiu o bate-boca, no
qual a juíza sentiu-se ofendida. Já o jornalista argumentou que se limitou a
criticá-la “dentro dos limites da liberdade de expressão”. Em primeira
instância, o Juizado Especial Cível da Comarca de Unaí-MG, onde inclusive
trabalha Ludmila, condenou Demori a indenizá-la em R$ 2 mil e publicar uma
retratação. Após recorrer da decisão, Demori perdeu em segunda instância e foi
condenado a publicar novamente a retratação, além da indenização por danos
morais.
......................
Fontes: ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br),
ANJ (www.anj.org.br), Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br),
Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa (www.portalimprensa.com.br),
ARI (www.ari.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net),
Portal dos Jornalistas (https://www.portaldosjornalistas.com.br/),
Jornalistas & Cia (https://www.jornalistasecia.com.br/), https://mediatalks.uol.com.br,
Consultor Jurídico (https://www.conjur.com.br/areas/imprensa), Sociedade
Interamericana de Imprensa (https://pt.sipiapa.org/), Federação Internacional
de Jornalistas (www.ifj.org), Sindicato dos Jornalistas de Portugal
(www.jornalistas.eu), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org), Portal
Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (https://cpj.org/pt/),
Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu) e outras
instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de
jornalista.
Pesquisa e edição: Vilson
Antonio Romero (RS)
vilsonromero@yahoo.com.br
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