ANO II - NÚMERO 9 - BOLETIM DE SETEMBRO/22
Destaques: Jornalistas sofrem ataques e ameaças em diversos estados. Justiça derruba censura ao Estadão e GGN. ABI lança Observatório da Liberdade de Imprensa e Democracia.
SUDESTE
São Paulo (SP) II - A jornalista Vera Magalhães,
colunista do jornal O Globo, comentarista da rádio CBN e apresentadora do
programa Roda Viva, da TV Cultura, foi atacada verbalmente pelo deputado
estadual Douglas Garcia (Republicanos-SP), durante o debate entre candidatos ao
governo de SP, na noite de 14 de setembro. Vera estava na área reservada
para jornalistas quando foi abordada por Garcia. Com o celular em punho, ele se
aproximou, dizendo que ela é “uma vergonha para o jornalismo” e a intimidando.
A frase é a mesma usada pelo presidente da República contra Vera durante o
debate da Band entre candidatos à Presidência. A profissional recebeu a
solidariedade de colegas e entidades de classe.
São Paulo (SP) III - A apresentadora Gabriela Prioli, do
programa “O Grande Debate”, da CNN Brasil, sofre ameaças desde que o presidente
da República (PL) publicou um comentário fazendo piada de uma entrevista dada
por ela à Revista Veja. Na publicação, Prioli citou os motivos para não
receber o presidente em seu programa. Com isso, ele afirmou: “Tabajara Futebol Clube
diz porque não quer Neymar em seu time”. Depois disso, ela começou a receber
centenas de ameaças em suas redes sociais. Em seu canal do Youtube, Gabriela
realiza diversas análises sobre o cenário político brasileiro e critica o
governo.
Rio de Janeiro (RJ) I - A Associação Brasileira de
Imprensa (ABI) lançou em setembro o Observatório Liberdade de Imprensa e
Democracia (LID) onde disponibiliza o e-mail abi.observatorio@gmail.com para as
denúncias de cerceamento à atuação profissional de jornalistas. Os
profissionais podem também informar se pretendem ter atendimento ou
assessoramento jurídico, fornecido pela própria ABI ou por seus parceiros. A
ABI também irá divulgar anualmente um Relatório do Observatório LID constando o
levantamento das denúncias recebidas para a concretização de dados de violência
contra jornalistas no Brasil.
São Paulo (SP) V - Entidades jornalísticas e organizações
que defendem a liberdade de imprensa e os direitos humanos, entre elas a
Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), realizaram, em 27 de setembro, um
ato em defesa das e dos profissionais de imprensa e da Democracia, na
Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). “Estamos reunidos aqui hoje
porque o jornalismo e a própria democracia estão sob forte ataque nos últimos
anos. E essa gravíssima situação chegou agora ao ápice. Estamos aqui juntos
para dizer que basta!”, afirmou Paulo Zocchi, vice-presidente da FENAJ, que
discursou em nome das 16 entidades parceiras no evento. O ato público foi
organizado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais (SJSP), Fenaj,
Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Abraji, Associação de Jornalismo
Digital (Ajor), Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), ONG Repórteres
sem Fronteiras (RSF), Instituto Vladimir Herzog, Associação Profissão
Jornalista (ApJor), Barão de Itararé, Intervozes, Fotógrafas e Fotógrafos Pela
Democracia, Associação Paulista dos Jornalistas Veteranos, Centro Acadêmico
Vladimir Herzog e Centro Acadêmico Benevides Paixão.
Rio de Janeiro (RJ) II – A repórter Jessica Dias, da ESPN
- RJ, foi assediada em 7 de setembro, enquanto fazia a cobertura dos arredores
do estádio do Maracanã antes do jogo de futebol entre Flamengo e Vélez
Sarsfield, da Argentina, pela semifinal da Libertadores. Durante uma transmissão
ao vivo, torcedores do Flamengo estavam ao fundo cantando músicas da
arquibancada quando, de repente, um deles lhe deu um beijo. Ele deixou o quadro
da imagem logo depois, enquanto a jornalista ficou, nitidamente, desconfortável
com a situação. A profissional e o torcedor foram encaminhados ao Juizado
Especial Criminal localizado no estádio para prestar depoimento.
São Paulo (SP) VI – A jornalista Amanda Klein, da rádio
Jovem Pan, foi atacada pelo presidente da República (PL) durante entrevista em
6 de setembro. Ao ser questionado sobre a compra de imóveis em dinheiro
vivo por ele e seus familiares, ele citou a vida pessoal da apresentadora,
mencionando seu marido como eleitor dele.
São Paulo (SP) VIII – O jornalista Leandro Demori,
ex-editor executivo do The Intercept Brasil, atualmente com um canal no YouTube
que leva seu nome, anuncia que deixou o Brasil devido às ameaças que vinha
sofrendo nos últimos tempos. Pelo Twitter afirmou que virou uma figura
visada, o que não era o seu objetivo, mas que pretende voltar. Após coordenar e
publicar no Intercept, em 2020, a série de reportagens sobre os arquivos da
Vaza Jato, Leandro sofreu uma série de ameaças e a ONU recomendou ao governo
brasileiro que oferecesse a ele medidas protetivas, o que não aconteceu. Em
junho de 2021, Demori virou alvo de investigação pela publicação de uma
reportagem que denuncia a atuação da Core, grupo da Polícia Civil do RJ, na
favela do Jacarezinho e, à época, o The Intercept Brasil afirmou tratar-se de
uma inversão de prioridades éticas e funcionais. De acordo com Leandro, sua
saída do Brasil deu-se por decisão familiar. Em janeiro deste ano, ele, a
esposa e o filho de apenas três anos saíam de uma mercearia em Balneário
Camboriú (SC) quando um homem os seguiu, aproximou-se e disse “se liga que a
vida do teu filho depende de ti”. Logo em seguida, deu a volta e entrou em
outra rua.
CENTRO-OESTE
JUDICIAIS
Brasília (DF) I – O jornal O Estado de S. Paulo se livrou
de censura imposta pelo Tribunal de Justiça do RS (TJ-RS), por veicular
reportagem sobre um clube de tiro. O jornal havia publicado que uma escola
de tiro teria firmado contrato de mútuo junto ao BNDES e posteriormente
alterado seu objeto social, antes da quitação do contrato, para nele inserir a
atividade econômica de “comércio varejista de armas e munições”, o que, segundo
a reportagem, implicaria em burla às normas do banco de fomento. A empresa ajuizou
ação pedindo a retirada da matéria, tendo obtido tutela antecipada. O ministro
Luiz Fux, do STF, suspendeu liminarmente a censura.
São Paulo (SP) - A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP)
foi obrigada a remover duas publicações feitas em seu Twitter sobre a
jornalista Vera Magalhães. O juiz Paulo Rogério Pinheiro, da 43ª Vara Cível
do Foro Central, também proibiu a parlamentar de veicular novas ofensas e
informações falsas sobre a jornalista. A ação foi ajuizada após a deputada
reproduzir nas redes sociais a fala do presidente da República de que Vera
nutriria uma “paixão” por ele, sendo uma “vergonha para o jornalismo brasileiro”.
Além disso, Carla Zambelli, resgatando um antigo vídeo, também afirmou em
postagens que Vera “ri” e “debocha” de um abuso sexual sofrido pela ex-ministra
Damares Alves, sugerindo que a jornalista teria agido como “sexista, machista,
cristofóbica e, de forma indireta, apoiando estupro e pedofilia”.
Sorocaba (SP) - O jornalista José Reiner Fernandes, do
jornal Integração, foi absolvido em uma queixa-crime movida pelo deputado
federal Guiga Peixoto (PSC-SP). A juíza Margarete Sacristan, da Justiça
Federal, acolheu parecer do Ministério Público Federal para absolvê-lo. O
parlamentar questionou um editorial do jornal, publicado em 2020, com o título “Um
engodo chamado Guiga”, que o acusou de crimes de peculato por meio de um esquema
de “rachadinhas”.
Brasília (DF) II - O ministro André Mendonça, do Supremo
Tribunal Federal (STF), liberou em 23 de setembro as reportagens do portal Uol
que revelavam que a família do presidente da República teria comprado 51
imóveis com dinheiro vivo. A decisão derruba a exigência do desembargador
Demetrius Cavalcanti, do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJ-DFT),
de que o conteúdo fosse retirado do ar. O magistrado havia atendido a um pedido
interposto pela defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). As duas reportagens
em questão, produzidas pelos repórteres Juliana Dal Piva e Thiago Herdy, foram
publicadas em 30 de agosto (Metade do patrimônio do clã Bolsonaro foi comprada
em dinheiro vivo) e 9 de setembro (Clã Bolsonaro: as evidências de dinheiro
vivo em cada um dos 51 imóveis). O Uol revelou que, dos 107 imóveis adquiridos
pelo mandatário, seus filhos, ex-mulheres e irmãos, desde os anos 1990, em 51
deles as aquisições foram feitas total ou parcialmente com o pagamento em
dinheiro em espécie.
Curitiba (PR) – Os profissionais Eleandro Passaia e
Vellinho Pinto, da Rede Massa, foram denunciados pelo Ministério Público por
terem publicado, em 2018, uma foto em que a empresária Cristiana Brittes, que
responde em liberdade por suposto envolvimento no assassinato do ex-jogador
Daniel Corrêa, aparece nua em cima de uma moto. As imagens foram exibidas
no programa “Tribuna da Massa”, associando a fotografia de nudez à pessoa da
vítima, sem a autorização dela, tratando-se de crime de importunação sexual e
de crime contra mulher. Á época da exibição da imagem, Eleandro era
apresentador do programa e Vellinho Pinto, editor-chefe.
Brasília (DF) III – O jornal GGN se livrou da censura em 11 reportagens sobre ligações do banco BTG Pactual com licitações em SP, manobras no Coaf, capitalização da aposentadoria no Chile, entre outros temas que o banco conseguiu remover da internet em agosto de 2020.
O Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou, em caráter definitivo, os recursos apresentados pelo BTG contra a decisão da 32ª Vara Cível do RJ que mantinha a exclusão das matérias. O banco entrou na Justiça contra matérias assinadas pelos jornalistas Luis Nassif e Patricia Faermann, alegando que o material excedia a liberdade de expressão e de imprensa, causando supostos “danos à imagem” da instituição financeira e prejuízos aos acionistas.Rio de Janeiro (RJ) - O jornalista Leo Dias, a
apresentadora Antonia Fontenelle e a youtuber Adriana Kappaz, conhecida como
Dri Paz, são alvos de queixa-crime por difamação, calúnia e injúria, movida
pela atriz Klara Castanho. A atriz alega que o jornalista, a apresentadora
e a youtuber teriam inventado mentiras sobre sua gravidez, além de terem
espalhado, também, a informação pela internet. Em junho, a jovem atriz se viu
obrigada a revelar ter sofrido um estupro, através de uma carta aberta. Ela
também contou que engravidou e decidiu dar o bebê para adoção. O fato veio à
tona após uma sequência de especulações circularem na mídia. Klara afirmou que se sentiu humilhada com a
divulgação de seu estupro.
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Fontes: ARI
(www.ari.org.br), ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br), ANJ
(www.anj.org.br), Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br),
Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa
(www.portalimprensa.com.br), Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa
(www.liberdadedeimprensa.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net), Portal dos Jornalistas (https://www.portaldosjornalistas.com.br/), Jornalistas & Cia
(https://www.jornalistasecia.com.br/), https://mediatalks.uol.com.br, Consultor Jurídico
(https://www.conjur.com.br/areas/imprensa), Sociedade Interamericana de
Imprensa (Miami), Federação Internacional de Jornalistas (www.ifj.org)
(Bruxelas), Sindicato dos Jornalistas de Portugal (www.jornalistas.eu)(Lisboa),
ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org) (Paris), Portal Comunique-se
(portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (Nova Iorque),
Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu), ONG
Campanha Emblema de Imprensa (PEC), Freedom House (www.freedomhouse.org),
Associação Mundial de Jornais (www.wan-ifra.org), Comissão Interamericana de
Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) (http://www.oas.org/pt/cidh/), Fórum Mundial dos Editores, https://forbiddenstories.org/, https://www.mfrr.eu/,
https://www.onefreepresscoalition.com/press e outras instituições e entidades de
defesa do livre exercício da profissão de jornalista.
Pesquisa e edição: Vilson
Antonio Romero (RS)
vilsonromero@yahoo.com.br
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