ANO II - NÚMERO 12 - BOLETIM DE DEZEMBRO/22
Destaques: Equipe da IstoÉ sofre agressões em SP. PF prende novamente o acusado de ser o mandante da morte de Dom Philips e Bruno Pereira. Presidente da ABI debate situação de Assange no Senado. Agência Amazônia Real entra no Programa de Proteção da Abraji.
SUDESTE
São Paulo (SP) I - A repórter Gabriela Rölke e um fotógrafo, ambos da revista IstoÉ, foram ameaçados e agredidos em 14 de dezembro no acampamento de manifestantes diante do Comando Militar do Sudeste.
Os agressores chegaram a despejar um líquido, provavelmente urina, nos jornalistas. Devidamente credenciados, os profissionais iniciaram amistosamente o contato com um grupo que se dispunha a ser entrevistado. No entanto, outros apoiadores do governo federal cercaram a equipe, proferiram ofensas e tentaram expulsar a repórter e o fotógrafo. Rölke foi ofendida com palavras misóginas de cunho moral e o bloco de anotações foi tomado de suas mãos. Enquanto enxotavam os jornalistas, os manifestantes filmavam a cena. Rölke e o fotógrafo se abrigaram em um posto volante da Polícia Militar, que acionou viaturas de reforço diante do cenário de risco. Os jornalistas registraram boletim de ocorrência no 36º DP, de Vila Mariana. A direção da IstoÉ informou que vai processar os responsáveis pelas agressões.São Paulo (SP) II - Equipes dos grupos de pesquisa COM+ e
do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (Obcom), da
Universidade de São Paulo (USP), lançaram uma ferramenta que irá auxiliar
pesquisadores e profissionais de comunicação na obtenção de dados sobre casos
de violência contra jornalistas no Brasil. Chamada provisoriamente de “Mapa”,
a ferramenta automatiza a busca e o
cruzamento de dados da série histórica dos Relatórios de Violência contra
Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, da Federação Nacional dos
Jornalistas (Fenaj), ampliando as possibilidades de conhecimento e acesso às
informações sobre estas violações. Bilíngue (português e inglês), a ferramenta
desenvolvida pelo programador Otávio Santos também gera gráficos que localizam
as ocorrências nos Estados, bem como um gráfico de barras que compara padrões
ao longo dos anos. A iniciativa faz parte do convênio de mobilidade de
pós-graduação docente e discente internacional “Safety Matters: research and
education on the Safety of Journalists”, em parceria com a Oslo Metropolitan
University (Noruega), University of the Witwaterstrand Johanneburg (África do
Sul) e a University of Tulsa (EUA), financiado pelo Research Council of Norway,
sob a coordenação da professora Daniela Oswald Ramos, docente do Departamento
de Comunicações e Artes (CCA) e Elizabeth Saad, professora sênior do
Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE).
Rio de Janeiro (RJ) – O Ministério Público Federal (MPF)
realizou em 13 de dezembro audiência pública para discutir o assédio judicial
contra jornalistas e comunicadores no Brasil, atendendo pedido da Associação
Brasileira de Imprensa (ABI). O evento focou o caso do escritor J.P.
Cuenca, que responde a 144 processos movidos por pastores da Igreja Universal,
por ter publicado, em junho de 2020, em seu perfil no Twitter, que “o
brasileiro só será livre quando o último Bolsonaro for enforcado nas tripas do
último pastor da Igreja Universal”. A postagem era alusiva a uma citação
atribuída ao escritor do século 18 Jean Meslier, segundo a qual “o homem só
será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre”. Espalhadas
pelo país, as ações judiciais contra Cuenca somam mais de R$ 2,4 milhões em
pedidos de indenizações. O uso do
Judiciário para intimidar Cuenca, numa suposta ação coordenada, é investigado
pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do MPF-RJ. O escritor
participou presencialmente da audiência, que foi conduzida pelo Procurador
Regional dos Direitos do Cidadão, Júlio Araújo Junior.
CENTRO-OESTE
Brasília (DF) II – O jornalista Jamil Chade, do portal
Uol, foi alvo de investigação do Ministério das Relações Exteriores (MRE) em
sindicância sobre a relação de diplomatas com o profissional. A iniciativa decorreu
da publicação de reportagem em 2020 sobre o alinhamento do Brasil a países
islâmicos e pelo País ter ignorado projeto da ONU sobre proteção às mulheres. A
informação foi revelada pelo próprio Jamil. A sindicância do Itamaraty, à época
comandado por Ernesto Araújo, objetivava investigar suposto vazamento de
informações e os contatos entre embaixadores e diplomatas com o colunista. O
ministro Araújo foi descrito por Chade como “um dos principais pilares da ala
mais radical do bolsonarismo”. Segundo o jornalista, ele só terá acesso às mensagens
e ao questionário sobre o assunto em 2035, pois foi imposto um sigilo de 15
anos sobre os documentos.
Brasília (DF) III - O jornalista Octávio Costa,
presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), participou em 15 de
dezembro de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado
Federal que debateu a situação do jornalista australiano Julian Assange, detido
desde 2019 em um presídio de segurança máxima na Inglaterra, acusado pelo
governo dos EUA de violar a legislação norte-americana contra espionagem. A
prisão de Assange — que em 2010 divulgou no site Wikileaks, do qual era editor,
uma série de documentos secretos sobre as invasões dos EUA ao Iraque e ao
Afeganistão — foi o fio condutor da audiência pública com o tema Liberdade de
Imprensa, Opinião e o Direito à Informação, que também tratou do assunto na
perspectiva do Brasil. Foram ouvidos representantes do Wikileaks e da
Organização dos Estados Americanos (OEA), segundo os quais o caso de Assange
vai muito além da questão pessoal e afeta o trabalho de jornalistas em todo o
mundo. Para tratar do direito à informação no Brasil, foram ouvidos
representantes de associações de jornalistas e de organizações de defesa dos
direitos humanos. Por sugestão do presidente da ABI, acolhida pelo senador
Humberto Costa (PT-PE), presidente da CDH, a Comissão enviará ofícios às
embaixadas dos EUA, do Reino Unido e da Austrália pedindo a retirada das
acusações contra Assange e a sua libertação. A audiência também contou com
a presença do presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara
dos Deputados, deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP); do relator especial
da Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, Pedro Vaca; da presidente
da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Samira de Castro; além de
representantes do Instituto Vladimir Herzog (IVH), do Conselho Nacional dos
Direitos Humanos (CNDH), da Comissão Arns e da Associação Brasileira de
Juristas pela Democracia (ABJD).
NORTE
JUDICIAIS
São Paulo (SP) I - A colunista Madeleine Lacsko, do
portal Uol, ganhou em primeira instância três ações contra usuários do Twitter
que a acusaram de ser “racista” e “transfóbica”. Segundo os autos,
Madeleine foi chamada de “transfóbica” por três usuários diferentes do Twitter.
Os processos também relataram outras ofensas, como “racista” e “supremacista
branca”, além de acusações de que a jornalista estaria promovendo “genocídio
branco”. O juiz João Cremasco, da Vara do Juizado Especial Cível e Criminal de
Cotia (SP) julgou as ações parcialmente procedentes. Em uma delas, ainda
observou que as postagens contra a jornalista extrapolaram os limites da
licitude e do direito de expressão e livre manifestação, “não tendo sido
acertada a escolha de rotular a autora como perpetradora de conduta que,
atualmente, é criminalizada no Brasil”. As indenizações por danos morais foram
fixadas em R$ 3 mil em cada um dos processos.
São Paulo (SP) II – A rádio Jovem Pan terá que pagar R$
50 mil por danos morais causados ao advogado Cristiano Zanin, por determinação
da juíza Flávia Poyares Miranda, da 28ª Vara Cível, da Comarca de SP. Em 7
de outubro, a comentarista da Jovem Pan Cristina Graeml, em seu canal no
YouTube, afirmou que Zanin seria “tão bandido quanto os clientes que defende”.
A magistrada entendeu que “o resultado do exercício da liberdade de imprensa e
de expressão não pode ser a ocorrência de atos ilícitos, como injúrias,
difamações, calúnias e discriminações”.
São Paulo (SP) III – O comentarista esportivo Mauro Cezar
Pereira, da Gazeta do Povo, Uol e com canal no YouTube, se livrou de
queixa-crime apresentada pelo técnico do Palmeiras Abel Ferreira. Em julho
deste ano, Abel comentou o caso de indisciplina de um jogador que foi flagrado
bebendo às vésperas de um jogo, e como isso teria relação com a deficiência da
educação de base do Brasil. Mauro criticou a fala do treinador, dizendo que ela
continha a “visão do colonizador”, pois esse tipo de situação ocorre também em
países considerados desenvolvidos. Na decisão, o juiz Fernando Conceição, da
14º Vara Criminal do Foro da Barra Funda, destacou que Mauro tem o “direito
pleno ao exercício da manifestação do pensamento, à criação, à expressão e à
informação sob qualquer forma, processo ou veículo, sem qualquer restrição” e
que “não se detecta na expressão proferida propósito específico de ofender ou
macular a honra alheia. Limitou-se o jornalista a expressar uma opinião sobre a
fala do técnico”. Ainda cabe recurso da decisão, e também corre uma ação cível
de danos morais.
Manaus (AM) - Ruben Villar, o Colômbia, suspeito de envolvimento no duplo homicídio do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, foi novamente preso pela Polícia Federal em 20 de dezembro. Ele era considerado foragido pela Justiça Federal porque descumpriu as condições da liberdade provisória. Detido pela primeira vez em julho, Colômbia havia sido solto em três meses, após pagar fiança de R$ 15 mil, e deveria ter permanecido em prisão domiciliar. Desta vez, para evitar nova fuga, a PF vai solicitar que ele seja transferido para um presídio federal de segurança máxima. Bruno e Dom foram assassinados em 5 de junho. O principal suspeito do duplo homicídio, Amarildo Oliveira foi transferido em novembro para uma prisão federal de segurança máxima em Campo Grande (MS). Outros dois suspeitos do crime foram denunciados em julho pelo Ministério Público Federal: Oseney da Costa de Oliveira, o Dos Santos, e Jefferson da Silva Lima, o Pelado da Dinha. Além do duplo homicídio, Dos Santos e Pelado da Dinha foram denunciados por ocultação de cadáver.
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Fontes: Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br), Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa (www.portalimprensa.com.br), Rede em Defesa da Liberdade de Imprensa (www.liberdadedeimprensa.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net), Portal dos Jornalistas (https://www.portaldosjornalistas.com.br/), Jornalistas & Cia (https://www.jornalistasecia.com.br/), https://mediatalks.uol.com.br, Consultor Jurídico (https://www.conjur.com.br/areas/imprensa), Sociedade Interamericana de Imprensa (Miami), Federação Internacional de Jornalistas (www.ifj.org) (Bruxelas), Sindicato dos Jornalistas de Portugal (www.jornalistas.eu)(Lisboa), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org) (Paris), Portal Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (Nova Iorque), Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu), ONG Campanha Emblema de Imprensa (PEC), Freedom House (www.freedomhouse.org), Associação Mundial de Jornais (www.wan-ifra.org), Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) (http://www.oas.org/pt/cidh/), Fórum Mundial dos Editores, https://forbiddenstories.org/, https://www.mfrr.eu/, ARI (www.ari.org.br), ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br), ANJ (www.anj.org.br), https://www.onefreepresscoalition.com/press e outras instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de jornalista.
Pesquisa e edição: Vilson
Antonio Romero (RS)
vilsonromero@yahoo.com.br
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