BO 20/12/22 - MRE INVESTIGA JORNALISTA DO UOL
Itamaraty
investigou relação entre diplomatas e Jamil Chade após reportagem de 2020
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) abriu uma
sindicância para investigar a relação de diplomatas com o jornalista Jamil
Chade, do UOL, após a publicação de uma reportagem em 2020 sobre o alinhamento
do Brasil a países islâmicos e pelo País ter ignorado projeto da ONU sobre
proteção às mulheres. A informação foi revelada pelo próprio Jamil na semana
passada.
A sindicância do Itamaraty teria o objetivo de investigar
suposto vazamento de informações e os contatos entre embaixadores e diplomatas
com o colunista. Entre as questões enviadas por telegrama aos funcionários
estão se conhecem pessoalmente Jamil Chade, se têm contato particular com ele e
se sabem de outros diplomatas que tenham contato com o jornalista.
À época da investigação, o MRE era comandado por Ernesto
Araújo, “um dos principais pilares da ala mais radical do bolsonarismo”,
descreveu Chade em sua coluna. Segundo o jornalista, ele só terá acesso ao
telegrama e ao questionário em 2035, pois foi imposto um sigilo de 15 anos
sobre os documentos. Além disso, segundo fontes de dentro da Chancelaria
ouvidas pela coluna de Chade, a sindicância ampliou o clima de medo e
perseguição que já existia na instituição desde a chegada do governo Bolsonaro.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
esclarece que “esse tipo de apuração faz parte do trabalho regular de um
correspondente, ao tentar antecipar ao leitor qual será a posição de seu país
em uma votação. Não trazia dados sensíveis. (…) O direito ao sigilo da fonte é
um preceito constitucional garantido aos jornalistas. Com a sindicância, o
Itamaraty buscou mapear a relação de um correspondente, sediado em Genebra, com
diplomatas de carreira, desconsiderando que o relacionamento de profissionais
de imprensa com diplomatas em missões no Exterior ou em qualquer posto do país
é essencial para o exercício da reportagem”.
Para Katia Brembatti, presidente da Abraji, “esse tipo de
sindicância nos pareceu uma maneira de intimidar os diplomatas e
constrangê-los, dificultando o trabalho do jornalista. O teor das perguntas
indica que o que se queria saber é quem tinha contato com Jamil Chade, passando
uma mensagem, inclusive como forma de desestimular contatos futuros”.
Após a revelação da sindicância, entidades de direitos
humanos e defensoras do jornalismo e da liberdade de imprensa estão pedindo
esclarecimentos do Itamaraty sobre a investigação.
A Abraji questionou o MRE sobre o ocorrido, que afirmou que
instaurou a sindicância como procedimento previsto na legislação seguida pela
Chancelaria. De acordo com o ministério, a sindicância foi arquivada por falta
de provas.
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