ANO III - NÚMERO 1 - BOLETIM DE JANEIRO/23
LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL -REGISTROS DE OCORRÊNCIAS EM JAN/23
Destaques: Fenaj registra mais de 300 ataques à imprensa em 2022. Profissionais são agredidos e ameaçados no DF, RS, BA e CE. Ministério da Justiça anuncia criação de Observatório Nacional. SJDF recebe mais de uma dezena de denúncias de agressões a jornalistas em 8 de janeiro.
SUDESTE
Rio de Janeiro (RJ) II – Um fórum de monitoramento das
violações à liberdade de imprensa e assédio judicial contra jornalistas foi
instituído pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC-RJ) a partir
do acompanhamento que o órgão faz, desde 2020, em inquérito civil público, do assédio
judicial contra o jornalista João Paulo Cuenca pela Igreja Universal do Reino
de Deus. Cuenca está sendo processado por diversos pastores da Igreja em
razão de uma publicação em sua conta do Twitter onde adaptou uma frase clássica
do século XVIII para criticar a família do ex-presidente e os evangélicos: “O
brasileiro só será livre quando o último Bolsonaro for enforcado nas tripas do
último pastor da Igreja Universal”. Até julho de 2021, eram mais de 100 ações
judiciais contra o jornalista em diversas regiões do país.
CENTRO-OESTE
Brasília (DF) I - A criação do Observatório Nacional da
Violência contra Jornalistas foi anunciada pelo ministro da Justiça e Segurança
Pública, Flávio Dino, em 17 de janeiro, em sua conta no Twitter. Ele
escreveu: “Acolhendo o pedido das entidades sindicais dos jornalistas, vamos
instalar no Ministério da Justiça o Observatório Nacional da Violência contra
Jornalistas, a fim de dialogar com o Poder Judiciário e demais instituições do
sistema de justiça e de segurança pública”. O anúncio aconteceu um dia após o
ministro se reunir com as presidentes da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj),
Samira de Castro, e da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji), Katia Brembatti, em Brasília, quando ele se solidarizou com os
jornalistas e colocou a pasta à disposição das entidades que representam os comunicadores.
O objetivo é cessar a onda de violência contra os profissionais em todo o
Brasil.
Brasília (DF) II – O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF (SJPDF) recebeu relatos de 16 profissionais da imprensa agredidos nos atos terroristas e golpistas de 8 de janeiro. Pelo menos dois deles solicitaram ajuda da Polícia Militar do DF e não receberam qualquer apoio. Uma colega relatou que um dos policiais chegou a apontar um fuzil para ela.
Veja os casos reportados ao SJPDF:
1 – Um repórter do jornal O Tempo foi agredido por
criminosos que chegaram a apontar duas armas de fogo para ele, dentro do Congresso
Nacional. O repórter relatou que procurou ajuda, mas os policiais militares se
recusaram. Foi salvo por um técnico da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
2 – Uma repórter da Rádio Jovem Pan foi xingada e seguida
enquanto deixava a região da Esplanada dos Ministérios. Um homem tentou abrir a
porta do carro da jornalista e apontou uma arma para ela.
3 – Um repórter da TV Band teve o celular destruído enquanto
filmava o ato. Ele me disse que não foi agredido.
4 – Uma fotógrafa do Metrópoles foi derrubada e espancada
por 10 homens. Ela teve o equipamento danificado.
5 – Uma jornalista e analista política do portal Brasil 247
foi ameaçada, perseguida e agredida pelos terroristas. Ela teve de apagar os
registros feitos no celular. Ao pedir auxílio da Polícia Militar, teve como
resposta um fuzil apontado em sua direção. Relatou que só saiu sem ser linchada
porque teve ajuda de uma pessoa que participava do ato.
6 – Uma correspondente do jornal The Washington Post foi
agredida com chutes e derrubada no chão. Ela teve o material de trabalho
roubado. Um repórter do jornal O Globo que testemunhou a agressão recorreu à
equipe do Ministério da Defesa, que ajudou a jornalista.
7 – Um fotógrafo free-lancer teve o equipamento de trabalho
e o telefone celular roubados pelos vândalos. Os agressores deram socos no
rosto dele e quebraram os óculos do profissional.
8 – Um repórter da Agência Anadolu, da Turquia, levou tapas
no rosto enquanto cobria o vandalismo no Palácio do Planalto.
9 – Um repórter da Agência France Press teve o equipamento
(incluindo o celular) roubado e foi agredido.
10 – Um fotógrafo da Folha de S. Paulo teve o equipamento
roubado.
11 – Um fotógrafo da Agência Reuters teve o material de
trabalho e o celular roubados.
12 – Um repórter da Agência Brasil teve o crachá puxado
pelas costas, enquanto registrava a destruição. Ele ficou com escoriações no
pescoço.
13 – Um fotógrafo do portal Poder360° foi agredido e
tentaram levar o equipamento dele.
14 – Um fotógrafo da Agência Brasil precisou sair da
Esplanada dos Ministérios após vândalos ameaçarem empurrá-lo da marquise do
Congresso Nacional.
15 – Um jornalista do portal Congresso em Foco relatou que
um agente da Polícia Rodoviária Federal impediu que ele ficasse em local seguro
e o que o obrigou a ir para o meio dos terroristas. Ele também foi cercado por
agentes da Força Nacional de Segurança Pública e só conseguiu ficar em
segurança após ser resgatado por um integrante da assessoria do Ministério da
Justiça e Segurança Pública.
16 – Um fotógrafo free-lancer foi perseguido pelo mesmo
homem encapuzado que intimidou o colega da Reuters. Este homem ameaçou
danificar o equipamento e agredir o profissional. Ao pedir ajuda da Polícia
Militar do DF, o repórter fotográfico foi autorizado a ficar dentro da área
protegida pelos policiais, mas o criminoso que o ameaçava continuava próximo a
ele e não se constrangeu com a presença da PM. Apesar de ter de permanecer mais
tempo no cercadinho, até se sentir seguro, o colega conseguiu sair do local sem
sofrer danos físicos ou materiais.
SUL
Pelotas (RS) – A jornalista Rafaela Rosa, do Diário
Popular, foi atacada verbalmente pelo vereador César Brisolara (PSB),
presidente da Câmara Municipal, em 17 de janeiro. O edil afirmou na tribuna
ser vítima de perseguição e chamou a repórter de “incapaz”, “incompetente” e “tendenciosa”,
inconformado com uma reportagem de dezembro passado do Diário Popular. A
matéria tinha como manchete uma fraude na área de saúde da cidade e, logo
abaixo do texto, havia uma foto de Brisolara sobre outra reportagem, também
assinada por Rafaela Rosa. Disse que a escolha da diagramação feita pelo jornal
deu a entender que ele era um bandido – e que a opção editorial sinaliza, no
fundo, questões de racismo por um negro ocupar um espaço de poder. Segundo ele,
o jornal reconheceu o erro na edição, mas nunca se retratou. Voltando ao tema
da reportagem, o vereador afirmou que a repórter o perseguia. Entidades de
classe repudiaram as agressões verbais.
NORDESTE
Salvador (BA) II - A repórter Tarsilla Alvarindo, da TV
Itapoan/Record, e sua equipe foram atacados na manhã de 16 de janeiro por dois
homens enquanto faziam a cobertura de um acidente na Avenida Orlando Gomes, no
bairro de Piatã. As cenas foram gravadas por uma equipe da TV Bahia/Globo que
também registrava o acidente. A pedido dos familiares da vítima, Alvarindo
gravava o incidente mantendo distância, preservando a identidade da vítima e
reportando o acidente com o devido respeito. Ainda assim, dois homens saíram do
local do acidente e chegaram até o carro da reportagem. Um deles, em poucos
segundos, já desferiu um soco no rosto da repórter e, depois, os dois se
voltaram contra o cinegrafista George Brito e o motorista Marcos Oliveira.
Alvarindo informou que, além das agressões, os homens ameaçaram a equipe, dando
a entender que poderiam estar armados e que os jornalistas “mereciam um tiro na
cara”. Os dois agressores foram presos e levados para a Central de Flagrantes
da Polícia Civil, onde assinaram um Termo Circunstanciado e saíram em
liberdade. Os profissionais registraram boletim de ocorrência e a repórter foi
encaminhada ao Instituto Médico Legal para realizar o exame de corpo de delito.
Fortaleza (CE) – Um repórter e um cinegrafista da TV
Jangadeiro, afiliada do SBT, foram agredidos verbalmente e ameaçados por
manifestantes na manhã de 3 de janeiro em frente ao Comando da 10ª Região
Militar. Os profissionais cobriam a movimentação no acampamento de
apoiadores do ex-presidente da República, quando ao menos oito pessoas se
aproximaram dos profissionais, com ofensas verbais e palavras de ordem. Os
momentos são registrados em diversos vídeos, inclusive produzidos pelos
próprios agressores. Entidades de classe pediram rigorosa investigação do
episódio.
JUDICIAIS
Cuiabá (MT) - O jornalista Rogério Florentino, do site
Conexão MT, responde à queixa-crime movida pelo proprietário de duas mineradoras
da região. A ação decorreu de reportagem intitulada “Governador estuda
fechar acordo com empresário investigado pela PF”, na qual o empresário alega
que o título e o texto seriam injuriosos e teriam lhe causado dano moral por relatar
que ele seria investigado pela Polícia Federal. A defesa do jornalista destaca
que a matéria foi baseada em documentos de processo judicial sem sigilo,
acessáveis no Tribunal Regional Federal (TRF-1), além de informações de dados
públicos como o da Receita Federal.
São Paulo (SP) – A TV Bandeirantes se livrou de indenizar
um homem acusado de latrocínio que teve a imagem exposta em uma reportagem do
programa “Brasil Urgente”. O desembargador Enio Zuliani, relator do
processo na 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça (TJ-SP),
entendeu que “só há configuração de dano moral quando uma reportagem não se
limita a tecer críticas prudentes ou a narrar fatos de interesse público”.
Segundo os autos, o homem foi filmado durante prisão em flagrante, em novembro
de 2021, na capital paulista, e ajuizou ação alegando violação ao princípio da
presunção de inocência e ao direito de imagem por ter sua fotografia exposta e
o nome vinculado a um crime pelo qual ainda não havia sido julgado. Atualmente,
o processo criminal está em grau de recurso após sentença de procedência em
primeiro grau.
......................
Fontes: ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br),
ANJ (www.anj.org.br), Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br),
Abert (www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa (www.portalimprensa.com.br),
ARI (www.ari.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net),
Portal dos Jornalistas (https://www.portaldosjornalistas.com.br/),
Jornalistas & Cia (https://www.jornalistasecia.com.br/), https://mediatalks.uol.com.br,
Consultor Jurídico (https://www.conjur.com.br/areas/imprensa), Sociedade
Interamericana de Imprensa (https://pt.sipiapa.org/), Federação Internacional
de Jornalistas (www.ifj.org), Sindicato dos Jornalistas de Portugal
(www.jornalistas.eu), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org), Portal
Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (https://cpj.org/pt/),
Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu) e outras
instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de
jornalista.
Pesquisa e edição: Vilson
Antonio Romero (RS)
vilsonromero@yahoo.com.br
Comentários
Postar um comentário