ANO III - NÚMERO 7 - BOLETIM DE JULHO/23
LIBERDADE DE IMPRENSA NO BRASIL
BOLETINS DE OCORRÊNCIAS EM JULHO/2023
Destaques: Presidente da Câmara dos Deputados move ações contra veículos de imprensa. Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional debate violência contra jornalistas. Carro de reportagem da Record é vandalizado no Rio de Janeiro.
CENTRO-OESTE
Brasília
(DF) – O Conselho de Comunicação Social (CCS) do Congresso Nacional realizou
audiência pública em 3 de julho no Senado Federal na qual pesquisadores e
representantes de entidades defensoras da liberdade de imprensa denunciaram o
aumento de casos de violência contra profissionais de comunicação no Brasil.
Presidida pela conselheira Patrícia Blanco, do Instituto Palavra Aberta,
representante da sociedade civil, a reunião teve participação de Maria José
Braga, representante dos jornalistas; Samira de Castro, presidente da Federação
Nacional dos Jornalistas (Fenaj); Rogério Christofoletti, professor da Universidade
Federal de Santa Catarina; Ricardo Ortiz, dirigente da Federação Interestadual
dos Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão (Fitert); e Taís Gasparian,
fundadora e diretora do Instituto TornaVoz. Os painelistas apresentaram dados
que comprovam atos violentos contra jornalistas, e pediram a aprovação de um
protocolo de segurança para a categoria e que tais crimes sejam federalizados.
Vilson Romero, da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e da Liberdade de
Imprensa da ABI e vice-presidente da ARI, participou do encontro.
SUDESTE
Rio
de Janeiro (RJ) - Um veículo da Record
TV Rio foi vandalizado em 19 de julho quando uma equipe de reportagem da
emissora acompanhava uma operação da Polícia Militar na Vila Aliança, zona
oeste da cidade. O caso foi relatado pelo apresentador Tino Junior no programa
Balanço Geral RJ, da rede Record, que mostrou imagens dos estragos no veículo:
“O carro foi vandalizado. Viraram o retrovisor, jogaram pedras. Vidro lateral e
para-brisa foram destruídos. Parte da lataria amassada”. Entidades de classe
repudiaram o ocorrido.
SUL
Porto Alegre (RS) - Os repórteres Gustavo Berton, da ESPN Brasil, e João Batista Filho, do Grupo Bandeirantes, foram hostilizados e ameaçados por torcedores, durante a cobertura do primeiro jogo da semifinal da Copa do Brasil, entre Grêmio e Flamengo, disputado em 26 de julho, na Arena.
O episódio aconteceu em um dos elevadores do estádio, que é utilizado tanto por comunicadores que precisam chegar às cabines de imprensa quanto por torcedores que ocupam a arquibancada abaixo do local. João Batista e Berton foram provocados por torcedores do Grêmio com hostilidades, além de terem sido constrangidos. “Ambos sofreram violência verbal, foram ofendidos e ameaçados pelos torcedores”, informa a Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos (Aceg) que divulgou nota lamentando o episódio e se solidarizando com os profissionais.
JUDICIAIS
Joinville
(SC) – A jornalista e pesquisadora Rosana Bond, de Florianópolis, está sendo
intimidada pelo vereador de Joinville Henrique Deckmann (MDB) que registrou
queixa-crime por calúnia, difamação e injúria. Rosana é especialista no Caminho
de Peabiru, as trilhas indígenas que ligavam o Brasil ao Peru no período
pré-colombiano, e autora de livros sobre o tema. A intimidação estaria
acontecendo após Rosana alertar sobre o uso de informações erradas por parte do
vereador. De acordo com a pesquisadora, Deckmann afirmava que o caminho dos
indígenas passava por Joinville e Garuva, localidade vizinha, tentando promover
uma atração turística. A pesquisadora destacou o erro na imprensa, ressaltando
que as teses do vereador não eram baseadas em dados reais e contrariavam a
documentação histórica. Rosana também alertou a Assembleia Legislativa sobre o
problema. Em 4 de julho, Rosana precisou prestar um depoimento ao 4º DP de
Joinville.A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudiou
a tentativa de intimidação, se solidarizando com a jornalista e com seus
colegas e familiares.O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de SC (SJSC)
também emitiu uma nota sobre o caso.
Brasilia (DF) I – Os jornalistas Andréia Sadi, Octavio Guedes, Marcelo Lins e Daniel Rocha, da GloboNews, e a própria emissora se livraram, em primeira instância, de uma ação por danos morais movida pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). A parlamentar recorreu à Justiça em função de uma entrevista, transmitida pelo canal de notícias em junho do ano passado, com o delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva. Ao comentar o assassinato do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo, o policial chamou a deputada de “bandida” e “marginal” e a acusou de apoiar atividades ilegais na Amazônia. O delegado, que no ano passado chegou a apresentar uma queixa-crime contra o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também afirmou na entrevista que há no Congresso “uma bancada do crime” e que Zambelli usou seu cargo de deputada para defender madeireiros que cometem crimes na Amazônia. Argumentando que os jornalistas não a defenderam das acusações feitas por Saraiva, Zambelli pedia na ação indenização de R$ 100 mil por danos morais.
A Justiça, porém, negou a demanda, alegando que os jornalistas apenas fizeram perguntas e que seria desonesto responsabilizá-los pelas críticas feitas pelo entrevistado. Saraiva também não foi responsabilizado, pois no entendimento do juiz “expressões tais quais as utilizadas pelo réu não são suficientes para afrontar a honra e integridade moral de quem ocupa um cargo público”. Ele também criticou a deputada por se expor “a situações controversas, senão vexatórias, tal qual a perseguição armada a um homem em São Paulo”. Cabe recurso.
Rio
de Janeiro (RJ) – O portal The Intercept Brasil conseguiu derrubar parcialmente
na justiça carioca a censura sobre a série de reportagens intitulada “Em nome
dos pais“. O material, retirado do ar há mais de um mês, produzido pela
repórter Nayara Felizardo, resultou de um ano de apuração e apontou diversas
decisões judiciais que inocentaram acusados de estupro de vulnerável ou de
violência doméstica, muitas vezes tirando os filhos das mulheres e
entregando-os a quem elas denunciaram. Apesar do parecer favorável, a liberação
não reverte totalmente a decisão inicial da juíza Flávia Bruno, da 14ª Vara
Cível do RJ. A alegação da magistrada é que a série fere a privacidade das
crianças. Com isso, a justiça liberou a republicação de quatro matérias, mas
segue impedindo que o documentário produzido sobre o assunto seja veiculado.
Brasília (DF) II – A revista Piauí recebeu determinação do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) para retirar nomes citados em uma reportagem da edição de junho sobre os programas Mais Médicos e Médicos pelo Brasil durante o governo anterior. A matéria “O cupinzeiro”, do jornalista Breno Pires, mostra como o governo desidratou o Mais Médicos e apresenta suspeitas de irregularidades Médicos pelo Brasil que o sucedeu. Há também relatos de casos de nepotismo e assédio moral na agência responsável pelo novo programa.Em um dos trechos, a publicação menciona o nome de um casal contratado pela agência. Foi esse casal que acionou a Justiça para que a reportagem fosse removida do site da Piauí e que a edição da revista fosse retirada de circulação.
A decisão liminar (provisória) em junho do juiz Hilmar Raposo Filho, da 21ª Vara Cível do DF, foi favorável, em parte, ao casal, determinando a supressão do nome dos requerentes. A Piauí recorreu, argumentando que “o conteúdo da matéria é estritamente narrativo, baseado em documentos oficiais e fontes fidedignas”. O desembargador Robson Teixeira de Freitas, do TJDFT, concordou com o juiz e manteve a necessidade de suprimir os nomes. Entidades como a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a ABI e a Abraji contestaram o assédio judicial e a censura.
Brasília
(DF) III - O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), moveu
diversas ações contra veículos de imprensa que noticiaram as recentes denúncias
de corrupção envolvendo seu nome e de violência contra sua ex-mulher Jullyene
Lins. Entre eles, o programa ICL Notícias, produzido pelo Instituto
Conhecimento Liberta, a Agência Pública e o site Congresso em Foco. Este, por
liminar concedida em 3 de julho pelo juiz Jayder de Araújo, da 10ª Vara Cível
de Brasília, foi obrigado a retirar do ar reportagem em que a ex-mulher do
deputado o acusa de ter cometido violência sexual contra ela em 2006. O caso
está sob sigilo e o mérito ainda será julgado. Além da remoção do conteúdo, a
ação por danos morais pede indenização de R$ 100 mil e tem como partes Jullyene
e o portal Uol, onde o Congresso em Foco está hospedado. No caso da Agência
Pública, o parlamentar entrou com ação na 14ª Vara Cível de Brasília contra a
publicação, e também sua ex-esposa. O pedido de tutela de urgência apresentado
por Lira na ação foi indeferido pelo juiz Luiz Carlos de Miranda. O magistrado
entendeu que a reportagem é de interesse público e visa a informar os leitores.
Lira também havia solicitado que o processo corresse em segredo de justiça, o
que também foi indeferido pelo juiz da ação. Neste caso, assim como no do
Congresso em Foco, além da retirada do conteúdo, foi pedida indenização por
danos morais no valor de R$ 100 mil. A Pública declarou que entrou em contato
com Lira para esclarecimentos e abriu espaço para ouvir e publicar a versão do
deputado, que optou por não responder aos questionamentos. Já no caso contra o
ICL Notícias, o deputado pediu a remoção de reportagens, entrevistas e
comentários produzidos pelo programa. Além das denúncias feitas pela ex-mulher
do deputado, neste caso a ação também mira comentários feitos durante o
programa sobre o arquivamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de uma
investigação por corrupção passiva, envolvendo aquisição superfaturada de kits
de robótica para escolas de AL. Desta vez, o Lira entrou com ação na 24ª Vara
Cível de Brasília para a retirada de ao menos 43 vídeos do ICL Notícias, e
pediu indenização de R$ 300 mil por dano moral. O deputado pediu em caráter de
urgência que todos os links do programa, incluindo trechos publicados pelos
participantes, fossem retirados das redes sociais. Mas o juiz Gustavo Sales
também negou a tutela de urgência, afirmando que a retirada do conteúdo do ar
sem que passasse pelo trâmite normal do processo de danos morais poderia “impor
verdadeira censura à liberdade de imprensa”. A Associação Brasileira de
Imprensa (ABI) e outras entidades condenaram os ataques judiciais sofridos
pelos veículos de imprensa.
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Fontes:
ABI (www.abi.org.br), Fenaj (www.fenaj.org.br), ANJ (www.anj.org.br),
Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br), Abert
(www.abert.org.br), Abraji (www.abraji.org.br), Portal Imprensa
(www.portalimprensa.com.br), ARI (www.ari.org.br), Portal Coletiva (www.coletiva.net), Portal dos Jornalistas (https://www.portaldosjornalistas.com.br/),
Jornalistas & Cia (https://www.jornalistasecia.com.br/), https://mediatalks.uol.com.br,
Consultor Jurídico (https://www.conjur.com.br/areas/imprensa), Sociedade
Interamericana de Imprensa (https://pt.sipiapa.org/), Federação Internacional
de Jornalistas (www.ifj.org), Sindicato dos Jornalistas de Portugal
(www.jornalistas.eu), ONG Repórteres Sem Fronteiras (www.rsf.org), Portal
Comunique-se (portal.comunique-se.com.br), Comitê de Proteção aos Jornalistas (https://cpj.org/pt/),
Centro Knight para o Jornalismo nas Américas (knightcenter.utexas.edu) e outras
instituições e entidades de defesa do livre exercício da profissão de
jornalista.
Pesquisa
e edição: Vilson Antonio Romero (RS)
vilsonromero@yahoo.com.br
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