BO 14/05/24 - FLIP E ABRAJI DIVULGAM RELATÓRIO SOBRE TRABALHO DA IMPRENSA NA AMAZÔNIA
Abraji e Flip lançam relatório sobre as dificuldades e o trabalho do jornalismo na Amazônia
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP), da Colômbia, uniram forças para abordar os desafios enfrentados pelo jornalismo na Amazônia, um dos ambientes mais difíceis de cobrir devido a sua densidade natural, mas também devido à interseção de interesses econômicos legais e ilegais. As duas organizações produziram um relatório em duas seções, uma sobre a Amazônia brasileira e outra sobre a Amazônia colombiana, identificando os desafios específicos do jornalismo nesses contextos e como suas histórias podem ajudar a proteger a diversificada região, com sua rica biodiversidade, inúmeras culturas indígenas e ribeirinhas e recursos naturais únicos, e promover uma sociedade bem informada e comprometida com sua conservação. Considerar a Amazônia como um único bioma pode ser uma simplificação se ignorar a rica diversidade de seus povos, territórios e desafios. Reconhecer a Amazônia implica compreendê-la além de uma entidade única e valorizar as múltiplas realidades que nela coexistem. Não é o mesmo falar da vasta Amazônia brasileira em Roraima ou no Mato Grosso, assim como não é o mesmo falar da Amazônia colombiana em Caquetá ou em Putumayo, por exemplo.
Essas
Amazônias também compartilham tragédias diárias que não reconhecem fronteiras.
Economias ilícitas como o narcotráfico, a mineração ilegal, o tráfico de armas,
entre outras, que se traduzem no controle de grupos às margens da lei e que
ameaçam o equilíbrio do território, condenam jornalistas ao silêncio, instalado
na autocensura e no medo de ameaças e da morte. Nessa questão, também
desempenham um papel grandes empresas extrativistas, atividades como a pecuária
extensiva ou a expansão da agroindústria, que ameaçam as relações simbióticas
que, por milênios, foram construídas e devastam a selva em uma escala alarmante
para a humanidade.
Neste
contexto, a Colômbia e o Brasil compartilham a triste distinção de serem os
países onde mais líderes ambientais são assassinados ano após ano. O último
relatório disponível da Global Witness, publicado em 2023, afirma que dos 177
assassinatos em todo o mundo em 2022, 60 ocorreram na Colômbia e 34 no Brasil.
Cerca de 36%, 64 pessoas, pertenciam a comunidades indígenas. Falar, agir e
denunciar o que está acontecendo na Amazônia é uma questão de vida ou morte.
Esse
contexto é inevitável para a prática do jornalismo nas regiões amazônicas.
Cobrir essas questões acarreta riscos significativos, desde enfrentar a
presença de vários atores armados, a imposição do silêncio, barreiras no acesso
à informação e limitações geográficas e econômicas que restringem a cobertura
em campo e a análise aprofundada das questões locais. O assassinato de Dom
Phillips e Bruno Pereira em 2022, em Atalaia do Norte (AM), é um lembrete
sombrio dos perigos enfrentados por profissionais que pesquisam e fazem
reportagens sobre a Amazônia.
No
entanto, a informação sobre o que está acontecendo todos os dias na Amazônia é
fundamental para a sociedade. Na medida em que menos informações estiverem
disponíveis, na medida em que as vozes dos defensores continuarem a ser
silenciadas, todos nós teremos menos condições de tomar decisões e de exigir
que os governos e os órgãos multilaterais tomem providências nesse momento
decisivo para o futuro do planeta. Por outro lado, também é essencial observar
as reivindicações daqueles que habitam esses territórios diante das visões e
narrativas que se instalaram na discussão pública e destacar a necessidade de
informações produzidas com abordagens pluriculturais que reconheçam o valor de
outras visões de mundo.
Este
relatório examina as condições que afetam o direito à liberdade de imprensa e
de expressão, com foco no jornalismo e em outras formas de produção de
informações de interesse público, especialmente na região amazônica da Colômbia
e na Amazônia ocidental brasileira. Conscientes da diversidade de perspectivas,
a ABRAJI e a FLIP enfatizam que não é intenção do projeto estabelecer uma visão
única sobre a situação na Amazônia, mas incentivar um diálogo mais amplo.
Embora o escopo seja limitado às áreas e vozes ouvidas no relatório,
procurou-se contribuir com elementos-chave para o debate sobre como o
jornalismo pode contribuir para a proteção da Amazônia e garantir que os
cidadãos recebam informações cada vez mais completas e precisas.
Fonte:
https://www.portaldosjornalistas.com.br/abraji-e-flip-lancam-relatorio-sobre-os-obstaculos-do-jornalismo-na-amazonia/
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